Mensagem

Dr. Hugo Tsou Ferraz

“Quando acabei o meu curso de Medicina Dentária, há mais de 22 anos atrás, recordo com facilidade, o prazer e o gosto que se foi desenvolvendo em mim, das inúmeras possibilidades que se abriram de poder ajudar outras pessoas. 

Por um lado, o controlo da dor e o seu alívio, revelou-se sempre uma experiência muito gratificante a nível pessoal; (penso que não haverá ninguém que culturalmente não associe algo de muito mau a uma dor de dentes); por outro lado, a própria reabilitação oral, o devolver o sorriso às pessoas, devolver-lhes a sua função perdida por dentes ausentes, veio também transformar o médico dentista numa espécie de salvador ou herói!

De facto, a objetividade e a componente técnica, elevada ao seu máximo, transformam esta área médico-dentária em algo fantástico, numa relação causa-efeito muito coerente.

Mas no entanto, ao fim de uns anos de profissão algo me começou a fazer falta… 

Não que tivesse deixado de gostar daquilo que fazia, pelo contrário, quanto mais trabalhava e aprendia, mais me apaixonava, e se calhar por essa mesma paixão, comecei a ter necessidade de fazer algo ainda melhor, mais completo, que me realizasse mais, e sobretudo que não visse num paciente apenas a sua boca e os seus dentes, mas uma entidade como um todo, que interagia com muitas células diferentes, mas todas “da mesma equipa”, e que esse todo seria muito mais do que a soma das partes…foi neste contexto e nesta busca que conheci a Medicina Tradicional Chinesa! 

O estudo e conhecimento da acupuntura, a visualização do corpo humano como um complexo circuito elétrico, mas dotado de vários pontos interruptores de controlo, e toda uma visão holística, fizeram-me deixar novamente apaixonado, e desta vez por uma área tão diferente e no entanto com tanta complementaridade.

Ao longo de 4 anos curriculares, não hesitei um minuto que este seria o caminho que eu iria percorrer. Embora não soubesse muito bem de que forma profissional poderia “encaixar” a acupuntura e a MTC na minha vida, o gosto pelo novo descobrimento foi tão grande que os livros de estudo se transformaram em livros de mesinha de cabeceira!

Ao fim do plano curricular e a graduação em MTC cumprida, e após alguns anos de experiência com essas novas “ferramentas”, penso que (como eu imaginava), na hora certa as soluções foram chegando: 

  • comecei por experimentar colocar aos meus pacientes mais nervosos, umas agulhas para controlo de ansiedade, no meu consultório e antes da consulta; o sucesso foi tão grande que acabei mesmo por tornar dessa prática um  protocolo
  • mais tarde, (e sendo a minha formação académica e clínica dirigida para a oclusão e fisiologia bucal), comecei a utilizar a acupuntura nos tratamentos de patologia da ATM, e uma vez mais fiquei surpreendido pela sua eficácia e ajuda, principalmente nas situações de dor crónica
  • seguiu-se o diagnóstico pela língua, o controlo hemorrágico pré e pós-cirúrgico, o controlo das náuseas e vómitos associado ao tratamento específico em palatos sensíveis, as emergências médicas, e outras… a verdade é que cada área nova que experimentava me surpreendia mais do que a anterior, pelo seu sucesso na ajuda do tratamento!

Hoje, com a criação do curso de “Acupuntura para Médicos Dentistas”, é minha intenção partilhar toda a minha experiência clínica nesta área, bem como a elaboração de protocolos clínicos, que possam vir a melhorar e complementar os nossos tratamentos do dia a dia, mas de uma forma que assente nestes pilares:

  • Elaborar protocolos clínicos para o médico-dentista utilizar no seu dia-a-dia, de forma simples e segura, nos seus normais tratamentos
  • Estes protocolos clínicos não serão simplesmente “impostos” como se de uma cábula se tratasse, mas serão estudados vários princípios básicos da acupuntura e de Medicina Tradicional Chinesa, para que o médico-dentista tenha conhecimentos da área, para alterar ou adaptar determinado protocolo ao seu paciente específico
  • Lançar um desafio a todos os colegas, que queiram entrar nesta aventura, que tem (na minha opinião) um potencial de crescimento enorme numa área de plena investigação. Acredito que temos hoje tecnologia avançada que nos permita dar a evidência científica que faltava, a teorias médicas milenares.

Por último, não queria deixar de comentar o quanto é importante para mim, sair de vez em quando da minha zona de conforto, pois essa é na minha opinião, a única forma de abandonarmos dogmas e/ou verdades absolutas que às vezes estão tão intrínsecas em nós, que já nem questionamos porquê que as adotamos, e nos impedem tantas vezes de ver o mundo de outra forma, não melhor nem pior, mas complementar,…assim como a acupuntura…”