A parestesia pode ser definida como uma sensação cutânea subjectiva, (frio, calor, adormecimento, pressão, etc.), de desconforto e “formigueiro”, que traduz a irritação de nervos periféricos sensitivos ou de raízes posteriores.

CAUSAS DE PARESTESIAS

Numa primeira análise conceptual, a parestesia pode resultar de uma agressão a um nervo sensitivo seja por compressão, contacto ou mesmo rutura de algum dos seus feixes, que por uma questão física e/ou química, impede a transmissão de um estímulo ao longo do seu trajeto.

Naturalmente, a razão que leva a essa compressão pode ser de diversas e variadas origens, podendo ir desde o “adormecimento” do braço porque nos sentamos em cima dele por um período de tempo prolongado, até uma parestesia permanente por secção total do feixe vásculo-nervoso.

Academicamente, e segundo vários autores, podemos dividir as principais causas em traumáticas (resultantes de uma agressão exterior como uma cirurgia ou uma pancada violenta), inflamatória, (agressão que parte dos tecidos circundantes vizinhos, que pelo aumento de volume comprime o nervo, ou neuropáticas vasculares (estados intrínsecos de neuropatias vasculares).

No que diz respeito à evolução das parestesias, embora a maioria das vezes seja de autorresolução e espontânea, a verdade é que o tratamento coadjuvante com vários tipos de terapias poderá fazer toda a diferença, quer na rapidez do todo o processo terapêutico, quer mesmo nos objetivos finais a atingir.

De entre as várias alternativas terapêuticas clássicas no tratamento das parestesias, distinguem-se naturalmente a utilização de uma farmacologia variada, que pode assentar numa base protocolar de: 

  • Antibióticos (aquando a presença de uma infecção)
  • Uso de corticoides para descompressão neurológica com diminuição da inflamação
  • Vitamina B1 associada à estrictinina (em injeções intra-musculares)
  • Histamina e/ou medicamentos vasodilatadores

Outras terapias clássicas são inevitavelmente a fisioterapia, (com todas as suas grandes variáveis associadas à mais alta tecnologia desenvolvida), e a microneurocirurgia (com maior indicação em situações de real secção do nervo ou parte dele).

É nosso objectivo neste contexto, criar um protocolo que vá associar a acupuntura como mais uma alternativa terapêutica complementar, que podemos apresentar aos nossos pacientes, paralelamente às clássicas anteriormente descritas.

Na prática médico-dentária é comum encontrar casos de parestesias em pacientes que tenham sido submetidos a exodontias de terceiros molares inferiores ou cirurgias que envolvam intimidade com feixes vásculo-nervosos, como por exemplo a colocação de implantes dentários.

Na região mandibular, por uma questão anatómica, estão mais frequentemente afetados os nervos lingual, alveolar inferior e bucal, que pela sua grande sensibilidade (um simples toque na bainha de mielina que envolve o nervo), se mostram facilmente comprometidos.

Á luz da Medicina Tradicional Chinesa a parestesia pode ser interpretada como um bloqueio de transmissão de sangue e energia na área respectiva, gerando nesse local uma deficiência dessas substâncias e a sensação típica do formigueiro e adormecimento.

A acupuntura tem o objectivo principal de, através da introdução de agulhas nos respectivos locais selecionados da superfície corporal, restabelecer o equilíbrio energético deste sistema, eliminar o bloqueio instaurado e promover o livre e normal fluxo de sangue e energia, induzindo a remissão dos sintomas.

A principal vantagem do tratamento com acupuntura, é ser uma técnica natural e não invasiva, que numa perspetiva holística aborda o paciente como um todo físico, mental e emocional, característica na qual as modalidades terapêuticas mais convencionalmente usadas não conseguem trabalhar eficientemente.

Seguindo este raciocínio, será importante ainda realçar que este tipo de pacientes portadores de parestesias de tempo prolongado, têm por norma um quadro clínico emocional e psicológico fragilizado, (provocado pela sua debilidade associada), o que uma vez mais valoriza a utilização da acupuntura, nesta componente abrangente de carácter físico e mental.

Por último, apresenta a grande vantagem de permitir que a utilização de acupuntura, seja completamente compatível (a nível temporal e fisiológico), com qualquer outra abordagem terapêutica

Vários autores descrevem na literatura casos clínicos reportados com a utilização de acupuntura para o tratamento de parestesias, e mesmo estudo com grupos de controle, evidenciando a sua eficácia. São exemplos desses estudos: 

– M. Floria et al, em 2012, descreve uma paciente com parestesia dos nervos alveolar inferior e lingual, após ter sido submetida a uma cirurgia de recolha de enxerto ósseo para colocação de implantes dentários, (9)

– D. Ribeiro et al, em 2016, descreve uma paciente com parestesia do nervo mandibular, após ter sido submetida uma cirurgia para colocação de um implante do 2º pré-molar inferior direito, na qual perdeu sensibilidade na região do mento e do lábio inferior direito.  O tratamento com acupuntura foi feito em 4 sessões, semanais, com duração de 45 minutos. Após a primeira sessão, a paciente recuperou a sensibilidade numa pequena parte da região do mento, mas não no lábio; na segunda sessão recuperou completamente da região do mento, mas nada ainda no lábio; na terceira sessão iniciou a recuperação do lábio, e no final da quarta sessão toda a região (mento e lábio) estavam recuperados. 

– H. Ferraz, Ribeiro e Santos, em 2017, descrevem uma paciente com parestesia dos nervos lingual e bucal, após ter sido submetida a uma exodontia de um terceiro molar inferior incluso. A paciente começou a sentir parestesia na língua, hemi-região direita, paradoxalmente apenas após 3 semanas da cirurgia. Foi utilizado um sistema de Ryodoraku como diagnóstico. Para melhor avaliação da recuperação, a língua foi dividida em regiões e exposta a testes de sensibilidade ao frio e ao toque. Após a primeira sessão a paciente recuperou a maior parte da sensibilidade afetada; após cerca de 3 sessões seguintes quase toda a região foi recuperando, embora no final tenha ficado uma pequena área que não recuperou totalmente, mas que, todavia, não incomodava nem interferia no bem-estar da paciente. 

Muitos outros estudos poderiam merecer também destaque, qualquer um deles evidenciando não só uma mais-valia no tratamento, como na nossa opinião, o melhor e único recurso coadjuvante desta reabilitação, que possa associar de forma efetiva a reorganização tecidual das células nervosas, e ao mesmo tempo ajudar no controle de ansiedade e/ou mesmo depressão muitas vezes associado a estes quadros clínicos.