Penso que podemos considerar universal, o medo ou receio que qualquer pessoa poderá experimentar (em alguma fase da sua vida), de “ir ao médico”. 

De facto, seja pelo medo do desconhecido, seja porque já está em sofrimento, estaremos sempre na presença de um organismo já sensibilizado, pronto a responder a um limiar de sensação muito inferior ao que poderia ser considerado normal.

Naturalmente existe uma subjetividade muito grande a este nível de sensibilidade, e o que para muitos pacientes não “custa nada”, para outros poderá ser uma experiência aterradora. Esta variabilidade de resposta tem vários fundamentos: cultural e educacional, físico, memórias de experiências anteriores vividas, ou mesmo todo um conjunto de fatores subtis que interferem no nosso subconsciente, como alguns cheiros, cores ou mesmo a síndrome da “bata branca”.

Particularmente na área de Medicina Dentária, penso que esta fobia e/ou ansiedade generalizada ganha mais significado do que em muitas outras áreas médicas. Este facto tem na minha opinião várias justificações tais como:

  • Historicamente os consultórios dentários derivam de antigos barbeiros ou outros “técnicos”, que pela sua destreza manual desenvolvida, ou por possuir já um espaço no qual o paciente se encontra sentado numa cadeira à sua mercê, os tornaram candidatos para tal prática
  • Os instrumentos utilizados sempre foram associados a episódios de terror ou sofrimento, como um martelo, um boticão (alicate), uma alavanca ou um bisturi
  • Anatomicamente toda a estrutura da boca é altamente inervada e vascularizada, o que por si só é motivo mais do que suficiente para a transformar numa região muito sensível e carente de alguns cuidados particulares.

Embora toda a ciência e tecnologia tenham evoluído bastante, quer a nível de instrumentos e máquinas, quer principalmente na farmacologia e utilização de anestésicos mais potentes, a verdade é que apesar de tudo, os fantasmas do passado ainda perseguem muitos pacientes e existe ainda uma ansiedade que se pode considerar frequente, antes da consulta dentária. 

Se por um lado alguns indivíduos conseguem controlar as suas emoções e disfarçar a ansiedade, (não porque não a tenham, mas porque a controlam), outros há, que não a conseguem dominar, chegando mesmo (segundo estudos apresentados pela Ordem dos Médicos Dentistas em 2018), a ser uma das causas principais de muitas pessoas não visitarem o seu médico dentista regularmente.

Perante este cenário, parece-nos que existe um excelente campo de intervenção para a acupuntura, que tantos protocolos e pontos tem para o controlo da ansiedade e indução de um relaxamento necessário antes do tratamento.

Tendo em conta o ambiente de um consultório médico-dentário, a posição sentada do paciente na sua cadeira, e o vestuário normal que utiliza (evitando pedir a este tipo de paciente que se vá despir para uma consulta dentária), foram elaborados protocolos clínicos de acupuntura, viáveis para qualquer consultório e/ou qualquer tratamento, de técnica muito simples, estimulados 10 minutos antes da consulta.

Uma vez mais, à semelhança do controle de dor, a introdução de uma agulha de acupuntura num ponto de acupuntura específico, (dotado de menor resistência e maior intensidade elétrica), vai desencadear um potencial de ação e sua respetiva propagação, estimulando a libertação de neurotransmissores, ativando uma cascata de reações bioquímicas, capazes de reduzir a ansiedade.

Um exemplo frequente é a libertação de serotonina, bem como a produção dos seus ISRS (Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina), que ao manter a sua concentração extracelular em níveis mais altos, vai potenciar o efeito de bem-estar e diminuição de ansiedade. (Processo bioquímico semelhante à utilização de antidepressivos).